O dia hoje tá lindo, e tá geladinho. Bem como eu gosto. Acho que eu vou pegar o Tobias e ir no Açorianos ler um livro de tarde. Tô pensando em voltar pro Feiticeiro de Terramar agora que terminei Uma Visão Pálida das Colinas, mas esse frescor no ar me pede uma história de mistério. Vou ver o que eu tenho aqui pra ler.
Como eu gosto do frio. Esse provavelmente é o último frio do ano — a primavera chega em algumas semanas, e os dias já estão mais quentes. Hoje amanheceu com 9°C, e eu aproveitei cada segundo tomando um café e vendo o sol se levantar. Vou sentir falta desse friozinho.
A semana foi corrida, profissionalmente falando (eu tô trocando de emprego, longa história), mas mesmo assim deu pra aproveitar bastante. Terminei um livro, vi três filmes (um dia eu alcanço os cinco ou seis por semana que eu via quando era jovem!), tô jogando um punhado de coisas… foi bom!
Livro: Uma Visão Pálida das Colinas (de Kazuo Ishiguro)

Amei. Eu terminei esse livro no sábado passado. Logo depois de terminar de escrever sobre a dieta cultural da semana. Eu achava que a puxada de tapete que acontece na metade da segunda parte do livro era quando Ishiguro ia tirar meu chão, mas ele deixa para as últimas palavras do penúltimo capítulo. Um absurdo de ler. Uma maravilha.
Uma Visão Pálida das Colinas se revela justamente nessa dificuldade de ver que o título sugere. É um livro embaçado e, quando o autor sugere que o que você está lendo é ainda mais incerto do que você imagina, o livro parece se embaçar ainda mais. É um feito difícil de conseguir: tornar a visão incerta do protagonista em algo ainda mais incerto sem que o leitor se sinta traído. Pelo contrário, ele prova nossas suspeitas aqui e ali, mas as peças não se encaixam perfeitamente, a sugestão ainda é imprecisa. Corta que é uma beleza.
Filmes: Interestelar (2014), Invocação do Mal 4: O Último Ritual (2025), Certas Mulheres (2014)

Entre sábado e domingo fez uma madrugada fria, e eu perdi o sono. Eu revi Certas Mulheres, um dos meus filmes favoritos, que é um filme calmo e frio, o que o torna uma boa cobertinha em noites em claro. Eu acho esse um filme perfeito, sutil em como a narrativa progride. Eu amo como a Kelly Reichardt observa essas mulheres trabalhando, se importando em capturar a textura de suas roupas, o frio do ar ao redor delas, o som das folhas e galhos quebrando aos seus pés, o ócio das suas noites. É um filme de solidões, é verdade. E é por isso que é tão lindo quando uma dessas personagens tenta se conectar com alguém. Um daqueles filmes que capturam um milagre.
Segunda-feira fui com a Deise rever o Interestelar do Christopher Nolan. Envelhece bem. Eu não sou o maior fã do diretor, e eu acho que ele precisa urgentemente de um roteirista. O início desse filme é Nolan no seu pior — cheio de frases de efeito que comprovam a inteligência do protagonista contra a burrice de todos os outros. Me fez querer ver Ad Astra de James Gray, um filme também cheio de clichês, mas que os usa para tornar o protagonista cada vez menor em meio à imensidão do espaço. O filme fica muito melhor quando vira um filme espacial de fato, e Nolan pode brincar com a relatividade do tempo, que ele ama tanto. Eu ainda acho que o melhor uso desse artifício ficou lá em O Grande Truque, de 2006, o único filme em que Nolan foi honesto consigo mesmo sobre suas pretenções como artista.
Me decepcionei pra caramba com o Invocação do Mal 4. Eu gosto muito desses filmes, o primeiro é um dos meus filmes de terror favoritos dos anos 2010. Em O Último Ritual, o diretor Michael Chaves tenta demais fazer uma continuação dos dois primeiros filmes da franquia depois do seu desastroso terceiro filme, que fugiu muito à fórmula, se centrando em uma assombração em uma casa. O Último Ritual não entrega nem uma família carismática mas claramente com outros problemas além de paranormais (que é o que faz o primeiro e segundo filme terem tanta textura em seus sustos), nem um bom fantasma. Não há análogo à Basheeba aqui, ou eu cochilei bem na hora que eles expliraram que demônio era esse (eu cochilei por uns 10 minutos nesse filme, eu acho). O filme não consegue unir bem o arco da família e dos Warren, e acaba esquecendo um ou outro por mais de meia hora, o que tira o impulso do filme. Alguém arrasta o James Wan de volta pra essa franquia, por favor.
Jogos: Hollow Knight: Silksong (Switch 2), The Legend of Zelda: A Link Between Worlds (3DS)

Silksong chegou quinta-feira e eu sou um zero à esquerda nesse jogo, como de costume. Eu sou bem ruim em metroidvanias em geral, mas eu sou terrível em jogos difíceis. Eu gosto muito da ambientação do jogo, tanto visual quanto narrativa, então quero insistir um pouco. Eu acabei desistindo do Hollow Knight original por causa da dificuldade e acabei assistindo outras pessoas jogarem, mas Silksong tem a mesma qualidade de jogabilidade: os movimentos são bons demais, a resposta aos cliques é forte o suficiente… dá muita vontade de continuar. Inclusive: coisa boa poder pagar menos de 100 reais por um baita jogo.
Além dos jogos eternos que eu continuo jogando (Animal Crossing, Breath of the Wild), eu dei uma jogada em A Link Between Worlds, meu jogo favorito do 3DS. Eu amo como ele é um jogo perfeito para um portátil, e eu acho que é porque a distância do campo de visão é o ideal para esse jogo? Ele é, teoricamente, um jogo de mundo aberto como Breath of the Wild, e a posição da câmera sobre Link é longe o suficiente para sugerir os seus arredores, mas não o suficiente para te fazer questionar o que tem naquela montanha, como é em Breath of the Wild. Me fez sentir uma certa nostalgia por jogos de portátil, que possuem loops de jogabilidade bem sucintos. Também me fez querer que jogos do Switch fossem mais adaptativos quanto à como o jogador joga, em relação à câmera. Acho que eu ia ser legal ver mais do horizonte em um Super Mario em 3D quando eu estou jogando na tela grande, mas mais detalhes dos meus arredores quando eu tô jogando no modo portátil.
Séries: Alien: Earth (primeira temporada, episódio 5), Community (primeira temporada)

Me sentindo meio culpado de ter gostado bem mais do quinto episódio de Alien: Earth depois das decepções dos três episódios anteriores… justamente porque a série praticamente só fez um filme de Alien redux. Eu ainda acho que a série quer muito fazer com o filme o que a série de Watchmen fez com o quadrinho, tanto que a estrutura é parecida. Estamos no meio da temporada e a série interrompe sua propulsão para voltar atrás, beber explicitamente da fonte original enquanto revela alguns detalhes que ainda não tinha largado pro espectador. Me parece muito This Extraordinary Being, o magnífico sexto episódio que revela as origens do Justiceiro Mascarado.
Continuo revendo Community (tô nostálgico!), e cheguei nos finalmentes da primeira temporada. Como essa série tem coração nesse início, não é a toa que essa primeira temporada garantiu duas renovações diretas. É o melhor momento tanto para Britta quanto para Chang, que continuam bons na segunda temporada mas degringolam para versões ininteligíveis deles mesmos depois disso. Passei pelo episódio do frango frito, inspirado nos filmes do Martin Scorsese, que eu acho que é um dos melhores episódios temáticos que a série entregou justamente pelo carinho que tem tanto pelos seus personagens quanto pela dinâmica entre eles. Esqueço sempre que esse episódio é a origem do Peitos da Annie, o macaco do Troy. Tô soltando uma risadinha só de escrever essa bobagem.