Ontem foi aniversário do meu pai, então não consegui passar no meu computador e escrever sobre o filme de ontem do festival, Da Colina Kokuriko, de Gorō Miyazaki. Também não vou dizer que fiz muita questão, já que o filme não é lá essas coisas. Ele é bonito, mas a melancolia que ele evoca é muito básica, nem parece ser do mesmo estúdio em que o eco do vento pode ser sentido no farfalhar da floresta do Meu Amigo Totoro. Sua narração torna a melancolia em texto, ao invés do subtexto com a qual os melhores filmes do estúdio parecem trabalhar. Te dizer que eu tentei ver esse filme duas vezes, e nas duas vezes eu cochilei. Nem no cinema eu me aguentei.

Já Meus Vizinhos, os Yamada é genial. Eu amo o trabalho do Takahata, e sua liberdade em usar traços e estilos de animação distintos para dar vida ao cotidiano dos Yamada é de uma delicadeza que eu acho que poucos filmes capturam toda a beleza que existe na dinâmica familiar, em todas as suas especificidades e problemas — os Yamada estão longe de serem amorosos, eles estão sempre implicando entre si. Mas Takahata cria as esquetes da família com tanta beleza e atenção aos detalhes mais básicos da convivência que transparece o carinho desses personagens pela dinâmica que eles criaram entre si. Tem sequências impagáveis, como quando eles esquecem a caçula no shopping, ou quando a mãe corre para recolher as roupas quando a chuva começa, e percebe que ela esqueceu de estendê-las. Ou aquela em que o pai se levanta e oferece para buscar algo caso alguem queira, só por educação. É tão mundano, mas tão lindo, que dá uma animada no meu próprio dia-a-dia. As duas sequências que abrem e fecham o filme, das histórias de casamento, são brilhantes. Um filme que eu amo rever. Amanhã tem Memórias de Ontem, outra obra-prima dele.




