Eu e o Tobias estávamos nas manifestações aqui da minha cidade contra a PEC da blindagem e do PL da anistia. Foi muito bonito, muito alegre. Pra uma cidade cada vez mais cinza, até o sol abriu. Deu um bocado de esperança ver toda aquela galera junta.

Algumas horas depois deixei o Tobias em casa pra ir na sessão do Ghibli Fest de hoje. Deu tempo de pegar um pastel no bar aqui do lado de casa e seguir caminho. É muito bom ser brasileiro.

Totoro, totorinho, totorinhoinho, Satsuki e Mei em cima da árvore gigante

Meu Amigo Totoro é um dos filmes mais importantes da minha vida. Eu fui uma criança muito assustada e calma, e meu desenho favorito era a fita VHS desse filme que ficava na casa da minha avó, e que eu via nos fins de semana que eu ficava lá. Totoro é um filme mágico, e revendo ele depois de muitos em muitos anos eu achei ele mais emocionante ainda. Nunca percebi o esforço que a Satsuki faz em parecer forte para a Mei, em fazer a irmã acreditar que tudo vai ficar bem enquanto ela em si tá com muito medo de perder a mãe.

Vai ver eu já tava no espírito quando eu entrei na sessão, mas tem muito do senso de comunidade de um vilarejo pequeno em Meu Amigo Totoro, que me lembra tanto a infância quanto o ditado de que “é preciso de uma aldeia inteira para criar uma criança” (que tem origem incerta). É preciso de uma cidadezinha inteira, tanto as pessoas quanto a natureza dela, para cuidar de Satsuki e Mei, e mesmo assim vão ter momentos em que elas vão se sentir sozinhas e desprotegidas. Sorte a delas de o Totoro estar por perto.

E visualmente lindo, caramba. Não é a toa que esse filme fica na memória. Miyazaki é o rei das transformações da matéria — de tornar o sólido em líquido, o rígido em maleável. O mundo se desdobra na nossa frente de formas absurdas e naturais ao mesmo tempo. A cena em que Mei conhece o Totoro, e adormece sobre ele tirou sorrisos e bocejos do melhor sentido: é um filme que nos deixa tão confortáveis naquele espaço, naquela lembrança de tudo o que a gente consegue ver quando somos crianças e que deixamos pelo caminho conforme vamos crescendo, que parece que o filme vai nos ninar.

É um dos melhores filmes que eu já vi. Era quando eu tinha seis anos, e continua sendo agora. Que bom ter reencontrado ele nesse diazinho perfeito.