Kiki está apoiada no balcão da padaria olhando pela porta de vidro da loja, uma girlanda com uma bruxinha sentada numa vassoura com seu gato está pendurada na porta

O Serviço de Entregas da Kiki foi ontem, mas depois da sessão eu tinha um aniversário pra ir e só consegui sentar agora no computador pra escrever sobre. Mais uma sessão cheia — essa a gente sabia que tava esgotada já fazia uns dias. Tava chovendo bastante, e mesmo assim quase todo mundo veio. Só tinham uns dois ou três lugares vagos nas poltronas da primeira fileira.

É um show. Kiki não foi o filme que eu vi quando eu era criança, como eu suspeito que muitos na sessão tenham visto. Eu vi ele pela primeira vez alguns anos atrás, mas ele parece ser um ótimo filme para assistir na casa dos avós num sábado. Como outros filmes do Miyazaki, é um filme que voa: a história passa voando, por diversos personagens, sem nunca parecer apressado. Kiki apresenta as dinâmicas da vida de uma bruxa com tanta facilidade, e sem precisar parar a história, que é de dar inveja a qualquer roteirista. Ela precisa sair de casa, encontrar uma cidade sem bruxa, e oferecer seus serviços à população — e, consequentemente, amadurecer. É muito pesado para uma criança de 13 anos, e Miyazaki sabe disso! A conversa com Ursula, sobre como ela não consegue desenhar todos os dias, é de uma honestidade e franqueza que me tira o chão.

O Serviço de Entregas da Kiki acaba exatamente quando o conflito se resolve, mas eu acho que muito do que me chama a atenção no filme é o que está ao redor dele. Por exemplo, eu amo como o marido da Osono parece um durão mas fica andando pelo salão da padaria enquanto a Kiki não volta pra casa numa noite; ou todo o arco de romance do Jiji. É um filme repleto de pessoas queridas e simpáticas e que querem ajudar um ao outro. Não é a toa que a gente sai dele inspirado a fazer parte de um mundo melhor.