Desculpem a ausência ontem pra falar de Vidas ao Vento e Nausicaä do Vale do Vento. Eu acabei aproveitando pra assistir Uma Batalha Após A Outra, o novo filme do Paul Thomas Anderson (logo mais escrevo um pouquinho sobre o que é, provavelmente, o melhor filme que eu assisti esse ano).
Também tem um motivo de curadoria. Eu acho que A Viagem de Chihiro devia ser o último filme da primeira parte do Ghibli Fest. É um filme tão perfeito, tão definitivo, que não dá pra evitar uma certa decepção com o que vem a seguir, mesmo que os filmes que se seguiram na mostra sejam ótimos filmes.
Vidas ao Vento foi, por um pouco mais de uma década, o último filme de Hayao Miyazaki: uma carta de amor ao seu pai e ao conflito ético de ser um criador cujas criações destruiram vidas. O filme é muito lindo, como é de se esperar, mas é claramente um filme menor. As estruturas dos filmes de Miyazaki são movidas muito mais por sentimentos e um crescimento interno de seus personagens. A narrativa progride com uma lógica interna que, se você contar, parece que tá falando bobagem — ela só funciona nos filmes em si. Nesse caso, Vidas ao Vento é um filme menos inventivo, porque o caráter bibliográfico da história nunca bate bem com o fluxo narrativo que Miyazaki entrega, e um acaba interrompendo o outro. O Menino e a Garça parece muito mais um resumo da obra de um mestre que Vidas ao Vento. Não deixa de ser lindo e emocionante. Mas é aquele baque, depois de assistir uma obra-prima. Eu devia ter esperado mais um dia.

Nausicaä do Vale do Vento não tem o obstáculo estrutural que me incomoda em Vidas ao Vento, e não tem culpa também de existir Princesa Mononoke, uma versão muito mais impecável desse filme. Nausicaä foi feito um pouco antes do Studio Ghibli existir de fato, mas as preocupações que Miyazaki explora em sua carreira estão aqui: a ação regida pelo desenvolvimento emocional de sua protagonista mais do que progressão da história, o conflito entre o homem e a natureza, a conexão espiritual com o mundo e os seus mistérios. A animação já é surpreendente — desde cedo Miyazaki tem uma mão fantástica para criar esses mundos repletos de incertezas e caos, e cheios de beco sem saída que eu adoraria me perder. Não é tão impactante quanto Princesa Mononoke nem O Menino e a Garça, seus descententes mais semelhantes na filmografia do diretor, mas é ótimo mesmo assim.









