Hoje foi o primeiro dia do Ghibli Fest aqui na Cinemateca Paulo Amorim. Eu vou ir em todas as sessões, e vou tentar escrever sobre todos os filmes (brevemente) aqui.

O filme de hoje foi Eu Posso Ouvir o Oceano, que o Studio Ghibli lançou originalmente em 1993. O filme é uma espécie de romance, uma espécie de filme de memória. Como romance ele não é muito bom, mas acho que é proposital: na história, dois amigos adolescentes se apaixonam pela colega nova na escola. Contando assim parece um triângulo amoroso, mas o diretor Tomomi Mochizuki não parece tão interessado nesse aspecto. Eu Posso Ouvir o Oceano é muito melhor como um filme de memórias, porque é mais preocupado em capturar como esses jovens são desajeitados em se expressarem e nas suas preocupações (a viagem de férias, o festival do colégio, as dinâmicas entre os grupinhos na escola) do que o que eles estão sentindo. Taku é extremamente desajeitado e incerto sobre seus sentimentos — ele age por impulso, tá sempre se apoiando em algo porque parece que nem os pés ele consegue segurar. Quando o salto temporal acontece, o filme fica muito melhor — e me faz querer que ele tivesse indo e vindo no tempo mais vezes. A dinâmica dos ex-colegas na noitada é muito específica para não ser baseada em fatos (eu mesmo já tive noites assim com amigos de infância).

Mochizuki e seus animadores também são muito bons em seus planos inseridos no meio da ação. As vezes é de um detalhe do cenário — como o corrimão de uma escada —, as vezes é do balançar da camisa de uma personagem e o que ela revela por baixo. Dá uma sensação de memória à flor da pele, quando a gente lembra da temperatura de um dia especial, ou do frescor do banheiro da casa de sua avó, que você não entra há muitos anos. São detalhes tão específicos, mas que elevam todo o filme com eles.

É um bom filme pra começar o festival. Não é o melhor, nem o pior, filme do estúdio. Mas é um bom exemplo de como o estúdio é capaz de trabalhar com personagens nem tão simpáticos assim. Nem Taku, nem Yutaka e muito menos Ritako são lá muito legais — mas cada um tá passando por algo nesse momento, e toda a esquisitice que eles aparentam em suas interações é muito honesta para a idade de seus personagens.

Eu peguei a sessão das 17h, então tô saindo mais cedo pra descer na Cinemateca. São dias assim que me fazem ser muito feliz em morar à algumas quadras do meu cinema favorito da cidade, e fazia um tempo que eu não pegava um filme depois do trabalho. Eu chego ali em menos de quinze minutos, e quando eu saio da sessão e cruzo a Andradas, o filme tá todo matutando na minha cabeça. Esse festival vai ser bom pra me deixar todo emocionadinho — são meus últimos dias na empresa que eu trabalho há quase cinco anos —, terminando meus dias saindo de filmes nostálgicos e melancólicos e cruzando pela minha parte favorita da cidade. Me fez lembrar, convenientemente, de quando eu era jovem e tinha a tarde livre para pegar filmes na Paulo Amorim, e voltava correndo para a rodoviária para pegar o ônibus pra minha cidade. A situação é invertida agora, mas a sensação de sair da sala de cinema no fim da tarde com os sentimentos aflorados é a mesma.