Tá chovendo bastante por aqui hoje. Dá pra ouvir o vento subir correndo a escadaria aqui do lado de casa. Não vou mentir, eu tava torcendo por essa chuva. Minha semana foi tão movimentada que eu tava torcendo por uma chuvinha pra me forçar a ficar quietinho em casa, tomando café e vendo Gilmore Girls.

Não quero prometer nada, mas quero escrever mais essa semana. Eu fiquei feliz de ter organizado meu tempo bem o suficiente pra conseguir caminhar todos os dias, e pra estudar francês todos os dias. Quem sabe eu vou conseguir escrever todos os dias mais pra frente? Não custa tentar.


Filme: Hard Truths.

Cena de Hard Truths: uma irmã olha preocupada para a outra — as duas estão sentadas lado a lado

Hard Truths (2024) é incrível. Eu amei toda a primeira parte, quando ele se estrutura de um jeito quase que como um filme de esquetes — vemos quatro mulheres, cada uma em um punhado de situações pequenas, e como elas reagem às adversidades dessas situações. Lentamente, Mike Leigh vai tecendo as tramas ao redor delas — as irmãs, a morte da mãe, a relação delas com suas respectivas famílias — sem pressa e sem julgamentos. Criamos uma antipatia tremenda (e muito bem humorada) com Pansy, uma mulher furiosa com sua própria vida e interpretada com uma força descomunal pela Marianne Jean-Baptiste (que se reúne com Leigh depois do magnífico Segredos e Mentiras). Ela é cruel com seu filho, com seu marido, com sua irmã, com suas sobrinhas, e com qualquer pessoa que ouse estar perto dela. Hard Truths é sensível o suficiente para nos mostrar as causas da dor de Pansy, mas não as vê como desculpa para a dor que ela aflige. É incrível, então, que ao final do filme você está aos prantos querendo o melhor para Pansy, que ela consiga se livrar dessa dor tremenda que ela carrega e que ela despeja por aí. Jogada de mestre.


Séries: Alien: Earth, Community.

Cena de Community: o grupo de estudos está sentado ao redor da mesa na biblioteca olhando para Jeff, que está em pé (fora de cena)

Terceiro episódio de Alien: Earth não leva a lugar nenhum. Nem sempre isso é um problema. Várias séries se enriquecem em episódios onde “nada acontece” mas tudo acontece também. A gente conhece mais os personagens, ou a série aproveita a falta de movimento para aprofundar as dinâmicas. Não acontece aqui. “Metamorfose” (S01E03) só existe para jogar migalhas dos mistérios que já tínhamos pegado nos dois primeiros episódios — o que a Weyland-Yutani quer? Qual o limite da humanidade dos “meninos perdidos”? Até onde a série vai abraçar essa analogia com Peter Pan???… Meu pé atrás com o Noah Hawley tem seus motivos.

Comecei a rever Community (S01E01 — S01E03). Sempre me impressiono ao lembrar como a primeira temporada tem um coração gigante pra esses personagens. É uma temporada que mostra porque as pessoas se tornam amigas. Muito desse espírito se perde ali pela terceira temporada, quando ela abraça os episódios temáticos com força, mas é justamente o que deu a força pra Community ser o que quisesse em cada episódio.


Jogos: Herdling.

Captura de tela de Herdling, com o protagonista correndo com os caricórnios no meio de um vale

Tava empolgado fazia um tempo pra jogar Herdling (Okomotive), é um jogo em montanhas e me lembra muito os Andes. Eu acho que a versão pro Switch é bem ruim: tem problemas sérios de performance e as texturas parecem ser de jogo do Nintendo 64. Eu imagino que isso é fruto do fato de que o estúdio não recebeu dev kits do Switch 2 antes do lançamento do jogo, e eu espero que eles lancem algumas atualizações para melhorar a performance do jogo no console. Ele parece muito bonito, mas esse port é um pouco desleixado.

Além de Herdling, eu joguei os jogos da rotina também: Breath of the Wild (tô indo pro Domínio de Zora) e Animal Crossing: New Horizons (fiz nada na ilha essa semana, mas tentei pegar o Blue Marlin).


Música: Nina Simone, The Tomato Collection.

A capa do CD “The Tomato Collection” sobre a minha cama

Encontrei o CD duplo da coletânea The Tomato Collection (1994) da Nina Simone essa semana. É o mesmo disco que toca durante os momentos finais de Antes do Pôr-do-Sol (Linklater, 2004). Esse CD não existe no Apple Music (e não existia no Spotify quando eu tinha uma conta lá), e a única cópia que encontrei para baixar tinha algumas faixas cortadas — “Porgy” e “But Beautiful”, e “When I Was In My Prime” tinha uma deforminade no final.

O CD, em dois volumes, tem um livreto com um ensaio sobre a curadoria da coleção, e tem algumas das minhas versões favoritas de “Just in Time” (a música que toca no filme do Linklater), “See-Line Woman” e “Ain’t Got No”. Acho que a maioria é ao vivo.


Livro: Uma Visão Pálida das Colinas.

Capa do livro

Cheguei na metade do livro, começando a segunda parte, e ainda sinto que ele tá escondendo o jogo de mim. No outro livro de Ishiguro que eu li esse sentimento era comum também, mas a essa altura do livro já dava pra ver que o autor estava desenhando algo. Uma Visão Pálida das Colinas se limita tanto ao ponto de vista de sua protagonista que as limitações dela sobre as outras pessoas (seus anseios, suas frustrações) parece ser a própria história. Não é ruim em nenhuma página, vale dizer. É tão bom estar imerso na mente de Etsuko e naquilo que ela não sabe (principalmente as circunstâncias da vida e morte de sua filha mais velha, Keiko). Toda a realização que Etsuko tem é feita com sutilezas, como uma paisagem que se revela devagar na neblina. Eu ainda acho que o livro vai tirar o meu chão — e talvez o faça justamente dessa forma silenciosa.